quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Presentes...

Estava pensando sobre quais presentes devo dar para meu neto. Não especificamente neste seu primeiro Natal, porque tendo ele 17 dias de vida o presente será simbólico, e também porque a vovó já providenciou um presente que ele vai poder usar ainda no ano que vem. Mas em geral: que presentes as crianças gostam de receber, que presentes os adultos gostam de dar, e como conciliar as duas coisas para chegar a um resultado que agrade a quem recebe e a quem dá o presente.
Que presentes mais gostei de receber, de quais ainda me lembro?

Flashback (entra aquela espiral de túnel do tempo)...
Entre Natais e aniversários (naquele tempo a publicidade ainda não tinha inventado o Dia da Criança), ganhei muitos brinquedos, muitas roupas e alguns presentes fora dessas duas categorias principais.
Das roupas nenhuma criança (pelo menos os meninos) se lembra; pelo contrário, a cara de qualquer criança ao abrir um presente e descobrir que é uma roupa é sempre de decepção (os pais, por outro lado, adoram).
Os brinquedos, elas adoram - enquanto duram, ou enquanto dura a novidade. Depois, quando não quebram, ficam esquecidos, trocados por outros mais novos. Um de que me lembro com saudade, e que infelizmente não resistiu a tantos anos nas mãos de três irmãos, foi o Mec-Bras.
Era um brinquedo de montar, composto de tiras e chapas de metal com furos, parafusos, porcas, roldanas etc. Tinha vários tamanhos de caixas, com número crescente de peças (os maiores tinham até um motor elétrico), e vinha com um catálogo com vários projetos para montar. A sacanagem (com as crianças e com os pais) era que o catálogo mostrava desde projetos simples até outros que só podiam ser montados com as caixas maiores. Meu sonho era um dia ter a caixa número 6... Achei estas fotos em um site de leilão na Web, para quem não conhece entender melhor e quem conhece recordar...





Acho que, além do fato de ser possível montar vários brinquedos usando os modelos do catálogo ou inventando novos, o motivo de o Mec-Bras ser lembrado é que era praticamente indestrutível, algo inimaginável nos dias de hoje. E provavelmente seria retirado do mercado hoje em dia, pelo perigo representado por peças de metal e parafusos, porcas e arruelas tão pequenos. Bem, eu pelo menos nunca engoli nem aspirei nenhuma peça...
Outros brinquedos lembrados e muito usados foram os carrinhos de pedal, os velocípedes e as bicicletas. Dos carrinhos, tive um Jipe e um Packard - esse, durou até ser reduzido ao chassi... Também eram de metal, e por muito tempo brincamos com a carroceria de lata rasgada e com cantos vivos: acho que os anjos da guarda daquele tempo eram mais competentes que os de hoje, nunca nos cortamos...
Havia os jogos de tabuleiro, dos quais alguns até hoje existem no mercado. Banco Imobiliário, o jogo interminável - será que as crianças de hoje, com seu "attention span" de poucos minutos ditado pela TV, ainda jogam? Xadrez Chinês, Tômbola, Dominó, Damas, Loto...
Mas o primeiro presente de que me recordo é também uma das primeiras coisas de que me lembro com clareza. Um dia, perto do Natal (eu tinha 5 ou 6 anos), minha mãe atende a campainha e eu vejo um homem entregar duas caixas: "Mãe, eu li, está escrito Tesouro da Juventude!" E minha mãe desconversando, "não, é só a caixa, isso é outra coisa"... Mas no dia de Natal, a coleção de lombada azul, novinha, 18 volumes!



É difícil explicar o que era o Tesouro da Juventude. A analogia mais próxima que posso fazer é que ele era a Internet da época. Essa coleção falava de tudo, de ciência a poesia, de geografia a história, de uma forma fácil de ler e bem organizada. Em sua própria descrição, "Reunião de conhecimentos essenciais, oferecidos em forma adequada ao proveito e entretenimento das crianças e adolescentes". Cada volume da coleção apresentava assuntos variados, divididos nas seguintes seções: A Terra, A Nossa Vida, Animais e Plantas, O Novo Mundo, O Velho Mundo, Belas-Artes, Os Livros Famosos, Poesias, Contos, As Belas Ações, Coisas que Devemos Saber, Os Porquês, Coisas que Podemos Fazer, Lições Atraentes e Homens e Mulheres Célebres. E certamente foi o presente de Natal que eu mais usei, e tenho até hoje. Ganhei muitas outras coleções de meu pai, não só em ocasiões especiais, mas sempre que aparecia uma que ele achasse interessante. Os vendedores de livros, essa categoria hoje em extinção e que era o equivalente em chatice na época aos telemarqueteiros de hoje, deviam adorar meu pai... Obras Completas de Monteiro Lobato (infantis e adultas), de Júlio Verne, de Malba Tahan; Enciclopédias Barsa, Mérito, Delta-Larousse; História do Brasil de Rocha Pombo, de Pedro Calmon; História Universal de Cesare Cantu (32 volumes!); e muitas outras.
Outros presentes remetiam às ciências: laboratório de química, microscópio...

(Túnel do tempo girando ao contrário...)
De volta do passado, já decidi ao menos uma coisa: que vou fazer de tudo para despertar no Guilherme o gosto pela leitura e a curiosidade em descobrir ele próprio as respostas para suas perguntas. Mas minhas lembranças me confirmaram que o maior presente que ganhei não foram os brinquedos, as bicicletas, os jogos, os livros. Por trás disso estava o cuidado com que meus pais, dentro de suas limitações financeiras, escolhiam presentes que me dessem algo além da simples recreação, que me desenvolvessem, que me encaminhassem. Procurarei seguir seu exemplo ao escolher presentes para meus netos.
E procurarei dar a meus netos o maior presente que ganhei de meus pais e que espero já ter passado a meus filhos: o seu exemplo de uma vida honesta, digna, sem atalhos duvidosos; o modo como tratavam qualquer pessoa, mesmo as mais humildes, com o mesmo respeito; a forma como nos educaram, rígida mas sempre justa. Enfim, embora eu provavelmente não seja um bom exemplo de pessoa religiosa, tentarei mostrar a eles o verdadeiro significado do Natal e o que o aniversariante que comemoramos nos ensinou e fez por todos nós!

"Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros."
(João 13:34-35)

7 comentários:

Anônimo disse...

Eu ainda não sou avó, pois meus filhos nem querem ainda ouvir falar do assunto ( e olhe que eu tenho dado indiretas..)! Mas de qualquer forma este ano estou dando, para meu filho mais velho, uma edição do Contos de Grimm, que acho fundamental toda família ter. Mesmo com todas aquelas histórias consideradas politicamente incorretas hoje...O Tesouro da juventude tenho até hoje. Meus filhos dormiam de pequenos com a gente contando aquelas histórias e olhando aquelas ilustrações. Linda lembrança!
Felicidades para vc, sua família e o netinho!!

Geraldo disse...

maray, obrigado por sua visita e seus comentários. Não desanime, logo os netos virão: também esperamos algum tempo pela chegada do nosso, mas valeu a pena!

Henrique disse...

Quão verdade é isso, pai... Me lembro do dia em que você me mostrou estes livros, tirando a poeira deles, e me explicou que haviam sido seus na sua infância. Eu, ainda criança, me interessei na hora, mas logo me voltei para meus próprios livros, estes dados a mim por você e pela mamãe.

Sim, livros, quem diria. Uma criança de poucos anos de vida, se interessando tanto pela leitura. Não é algo natural, mesmo tão importante. Quem deu este presente a mim e a meus irmãos foram vocês, e posso então afirmar aqui que se você vai se esforçar para fazer seus netos lerem e se interessarem, fará com o apoio dos pais.

Tenho duas memórias de infância marcantes e que me emociono até hoje ao lembrar, que queria aqui dividir com você e a mamãe, para que saibam que pelo menos aos olhos de seu filho fizeram tudo certo.

A primeira, que permeou nossa infância toda, fazia parte de um ritual quase que diário nosso. Primeiro no seu Corcel I azul 1974, e depois na Belina Corcel II LDO 1982, íamos com a mamãe te buscar todos os dias de semana naquela travessinha da Tutóia, em frente à IBM. Ali, estacionávamos o carro entre 17h e 18h, e esperávamos. Eram outros tempos, não havia medo de assaltos. Esperávamos, eu, meus irmãos e a mamãe, às vezes com paciência, às vezes nem tanto, que você viesse. O suspense para nós ficava por conta do que fazia com sua pasta 007; às vezes, passava para trás para que ficasse conosco, e nada acontecia. Mas em outras vezes, com freqüência, a pasta se abria antes. Dela, vinham as letras que tanto nos ajudaram: gibis da Disney, como os do "Pateta faz História" ou as eternas historinhas de Tio Patinhas contra Pão-Duro McMoney. Figurinhas, de tantos álbuns, como dos animais que tinha a página central com os Fofilhotes, o Rock Stamp, e as antigas chapinhas do posto Shell. E fascículos, de tantas coleções. Algumas que hoje vejo que até não eram de assuntos tão desejáveis, como aviões de guerra, mas pelas quais tenho muito carinho pelo que representam. Era uma forma de vocês darem a nós a informação que queríamos, incentivando a leitura e a pesquisa.

A segunda memória que trago saudosa é de nossa primeira estadia nos Estados Unidos. Naquele tempo, com oito anos, eu já tinha o hábito e o interesse pela leitura, e fomos para lá sem que eu soubesse inglês. Na primeira oportunidade, me lembro que vocês pediram vários livros do Weekly Reader, alguns dos quais estão na casa de vocês até hoje. Aqueles livros, juntamente com tantos outros que nos deram neste período, me ajudaram a ter o inglês que preservo até hoje. Me lembro de alguns, como do Farmer McBroom e o Charlotte's Web, que até hoje me emociona e que eu soube que está saindo em um filme em breve, com a Julia Roberts na voz da aranha Charlotte.

Sou eternamente grato a meus pais, por terem tido a tenacidade de espírito de negar o que não era essencial, com dor no coração por vezes, mas de nunca economizar na educação dos filhos.

Obrigado a vocês.

Geraldo disse...

Filho,

Só hoje percebi que alguns comentários que fiz não apareceram no blog. Agora já passou muito tempo, mas obrigado pelas lembranças. Não devemos viver presos ao passado, mas é importante usar as boas lembranças pelo que elas trazem de ensinamentos...

Anônimo disse...

Caros,
eu ainda tenho, depois de 40 anos dois MEC-BRAS, inclusive aquele grande,com motor, uma maravilha. Acho que aquelas experiências me ajudaram muito nas aulas de física e a me tornar engenheiro. O que foi perdido foram os Manuais: será que alguem soberia como conseguir uma cópia? Tenho um filho de 11 anos e gostaria de dá-lo de presente no próximo aniversário.
Sdporch@ig.com.br

Unknown disse...

Geraldo,
gostei muito de ler sua carta, eu sou uma felicíssima avó de um neto de três anos, e como vc pretendo passar-lhe todas as coisas boas que aprendi com meus pais. Nós, eu e dois irmãos, tivemos brinquedos feitos por nosso pai, que era carpinteiro...nunca esquecemos disso e somos sempre muito gratos a ele por isso também.

Curta bastante seu neto que deve ser a coisa mais linda, como o meu.
Um grande abraço.
Léia.

Anônimo disse...

nao achei o que eu queria (como era feitos os brimquedos na epoca de monteiro lobato)