Sou paulistano de segunda geração. Minha mãe, filha de português e austríaca, nasceu no Brás quando esse bairro era uma cidade italiana dentro da cidade - típica mistura paulistana! Meu neto, portanto, é paulistano de quarta geração. É difícil para quem não é de São Paulo entender como é possível a alguém amar esta cidade. Mas para quem vem viver aqui com a mente aberta, sem preconceitos e sem a firme intenção de voltar o mais rápido possível para seu lugar de origem, a cidade vai revelando aos poucos seus encantos, seus segredos, suas belezas, suas mordomias. As pessoas vão aprendendo a quantidade de serviços que a cidade oferece, a variedade de seus restaurantes, vão descobrindo que é possível a qualquer pessoa achar dentro de São Paulo a sua própria cidade, adaptada a seus gostos, hobbies, manias. Pouquíssimas cidades do mundo são tão auto-suficientes, tão completas no que oferecem a seus moradores.
A São Paulo de hoje é muito diferente da de minha infância, é claro. Pior? O primeiro impulso é dizer que sim: lembrar das ruas tranqüilas, dos horizontes amplos, dos comerciantes que a gente conhecia pelo nome. Mas pensando bem vemos que nos últimos anos muita coisa tem mudado para melhor. Hoje temos uma vida cultural muito mais intensa, grandes musicais, uma Sinfônica de nível mundial. Os pássaros têm voltado à cidade com o plantio de árvores que os atraem. O rio Tietê está sendo mais bem-cuidado, com um projeto de despoluição que precisa ser mantido por décadas até chegar aos resultados sonhados por todos. O crescimento desordenado infelizmente continua, mas isso só vai mudar quando São Paulo deixar de ser a terra dos sonhos dos desesperançados deste país (e dos países vizinhos). Essa visão de São Paulo como a última esperança é algo de que devemos nos orgulhar e ao mesmo tempo nos entristecer. Ou seja, é mais um dos contrastes que formam o retrato desta minha cidade...
Como será a São Paulo de meu neto? Muito diferente, com certeza. Muito melhor, é o que espero. Que ele possa navegar no Tietê, caminhar à noite pelas ruas sem medo, respirar um ar tão puro quanto o do campo, ver pássaros que hoje ainda passam longe da cidade. E que possa continuar a ter todas as vantagens de viver numa das maiores e mais dinâmicas cidades do mundo. Ah, e comer a melhor pizza do planeta! Parabéns, São Paulo!
6 comentários:
Bonito post Geraldo, agora entendo por quê vocês têm tantas caixas lá no lado do salão de festas, são memórias... Fico feliz de estar passando não só para seu neto, mas para os amigos mais novos sua história. Um abraço!
Cris, obrigado pelo comentário. Pois é, eu sabia que essas velharias iam acabar servindo para alguma coisa... Agora só falta nossos amigos do interior criarem o hábito de passar uns fins de semana em São Paulo de vez em quando. É tão perto e tem tanta coisa para os netinhos fazerem...
Gostei muito desta sua homenagem à São Paulo. Minha mãe, meu pai e meus avós eram de Itu, mas sempre moraram em São Paulo, e eu nasci e morei até 1998 em São Paulo.
Quando eu era criança, assisti às comemorações do Quarto Centenário nos jardins da União Cultural Brasil Estados Unidos, no centro. Me lembro até hoje da maravilhosa chuva de estrelas prateadas, que eu e minha irmã corríamos para apanhar. Pena que não guardamos nenhuma delas! Não sei bem se eram estrelas ou triângulos prateados.
Se tiver tempo, dê uma olhada nos meus dois últimos post, para ver as fotos que meu marido clicou de São Paulo. Abraços.
Sonia,
Também me lembro dessa chuva de prata e ouro. Eram triângulos de alumínio, se não me engano tinham o símbolo do Quarto Centenário ou da cidade. E o "ouro", em bem menor número, eram pedacinhos amarelos irregulares de metal...
As fotos de seu marido, vou comentar lá!
OLÁ.
Sabe informar se por ocasiaõ do quarto centenário, sua comemoração. foi lançada uma jóia ( um anel) chamado quarto centenário, e que na epoca foi publicado salvo engano na Revista CRUZEIRO?
Desconheço esse anel. Infelizmente não tenho nenhuma O Cruzeiro da época, só a Manchete...
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