terça-feira, 24 de abril de 2007

Leituras do vovô quando menino

Três Escoteiros em Férias no Rio Paraná, de Francisco de Barros Jr.

Ganhei este livro de minha professora do 5º ano, Dona Adélia: li-o de uma tacada só, e depois disso o reli várias vezes. A história dos três amigos escoteiros, Rubens, Jari e Carlos Afonso, que descem de barco o trecho paulista do rio Paraná, com muitas aventuras e perigos pelo caminho, era fascinante para um menino de 11 anos.
Hoje lembrei-me do livro e fui procurá-lo. Folheando-o, vi que hoje a maior parte dele seria condenada pelos ecologistas, pois os escoteiros caçavam tudo o que viam pela frente: capivara, perdiz, mutum, gavião, sucuris e até uma onça... Mas aqueles eram outros tempos, a região era quase selvagem e os bichos não corriam risco de extinção...

No entanto, já se podia sentir o início do que estava por vir, e o livro também trazia mensagens de amor e preocupação pela natureza. Reproduzo aqui um trecho que descreve o que os meninos viram perto de Presidente Epitácio:

"Do lado de São Paulo, a majestosa floresta havia recuado da margem por muitas centenas de metros, abatida pelos tiradores de madeira e lenhadores. As derrubadas eram enormes e acompanhavam o curso do rio, onde, para facilidade de embarque das toras e da lenha, havia uma sucessão de rampas; em algumas estavam atracadas as grandes barcaças, rebocadas por possantes motores a gasolina. Era uma desolação. A floresta virgem era levada para as fornalhas da E. F. Sorocabana e seria reduzida a cinzas. Não se via uma roça de milho, algodão ou plantações de café que de certo modo compensassem a devastação. De espaço a espaço, choupanas miseráveis de pau-a-pique, cobertas de folhas de coqueiro, parecendo abandonadas. Os seus moradores estavam no âmago da floresta, lançando por terra os gigantes centenários e regozijavam-se quando uma perobeira ou jequitibá de trinta ou quarenta metros de alto ruía fragorosamente, deixando uma clareira. Dentro de poucos, de muito poucos anos, desapareceriam a floresta e desapareceriam os veados, os porcos do mato, as antas, os macacos, os macucos, jacus, jacutingas, enfim, todos os seus habitantes terrestres e alados, tal como já aconteceu na maior parte do nosso querido São Paulo."

Esse livro foi escrito há mais de 50 anos. Confesso que não sei o que os autores de hoje escrevem para meninos pré-adolescentes. Preciso me atualizar, logo estarei comprando livros para meus netos. Espero encontrar ao menos alguns que lhes prendam tanto a atenção como este prendeu a minha...

3 comentários:

sonia a. mascaro disse...

Estou pensando aqui nos livros que eu lia na pré-adolescência.... Eu desde criança adorava ler. Meu avô tinha uma grande biblioteca e eu lia tudo o que ele tinha. Nem sempre entendia, mas lia... e continuo lendo muito!

Me lembro bem dos primeiros livros da minha infância, que foram Monteiro Lobato, que li todos, inúmeras vezes e os de uma autora chamada Condessa de Ségur, (quem se lembra dela?). Eram volumes bonitos, com capa dura forrada de tecido, com um decalque na capa em dourado, com dois pombos com uma flor no bico. Eram 3 volumes, As meninas Exemplares, Os Desastres de Sofia e As Férias, com tradução do poeta Murilo Mendes. Até hoje tenho os livros. Minha filha se chama Sofia exatamente porque eu adorei o nome da personagem. Gostei de seu post, Geraldo, ele avivou muitas lembranças!
Abraços!

PS: Dê uma passada "em casa" para ver minha estante de livros.

sonia a. mascaro disse...

Obrigada pela visita, Geraldo!
Quando tiver tempo, coloque aqui sua estante de livros e eu vou colocar o seu link na minha página.

Falando em doação, quando me mudei de SP para cá, achei que poderia doar parte dos meus livros para duas bibliotecas da região. Separei mais de vinte engradados. Tinha de tudo, literatura brasileira, estrangeira, comunicação de massa, etc. E me inscrevi na biblioteca. Um dia fiquei com vontade de reler Contraponto, do Huxley, e descobri que os livros de uma das bibliotecas haviam se perdido. Eles estavam numa sala esperando catalogação, houve um temporal, o teto cedeu e eles foram encharcados. Sobrou um ou outro. Enfim, como nada dura para sempre... E meu filho me presenteou com o Contraponto!
Um ótimo final de semana para todos vocês!

Natanael Floripes disse...

Li esse livro quando era criança e gostei demais. São livros assim que despertam o gosto para a leitura. Achar que uma criança vai aprender a gostar de ler começando com José de Alencar ou Machado de Assis é muita ingenuidade das escolas brasileiras.